APRESENTAÇÃO

Dona Antonia bordava sentada na varanda. Ao seu redor, os filhos, entre uma brincadeira e outra, sentavam-se ao seu lado e viam surgir no bastidor, com olhos deslumbrados, flores, pássaros, casas e bichos.

Embora fossem muitas as atrações naquele sítio: estirar cobras mortas no varal, se esconder das assombrações, caçar tatu, pular corda e amarelinha no chão de terra, comer jabuticabas e se lambuzar de terra recém-molhada pelas chuvas, as crianças não resistiam ao fascínio daquelas criaturas mágicas que ganhavam vida nos pontos de sua mãe.

Aos poucos, começaram a ajudá-la, enquanto um enrolava as linhas, outro organizava as cores em grandes caixas e, enfim, se arriscaram neste reino encantado, reproduzindo em cores as imagens que permeavam sua infância.

O pequeno Demóstenes, traquinas como todo moleque saudável, riscou seus primeiros traços nas ruas de Pirapora, arremedando o grande traseiro de uma vizinha.

As crianças cresceram, estudaram, partiram para diferentes cidades. Já adultos cinco dos filhos - Marilu, Marta, Sávia, Ângela e Demóstenes – começaram a sonhar a possibilidade de bordar histórias. Foram publicados os primeiros livros, de autoria própria ou de renomados escritores e o reconhecimento deste estilo único se ampliou, conquistando paragens internacionais. Inúmeras mulheres de baixa renda foram capacitadas e hoje ganham seu sustento com a venda de seus bordados. O ICAD – Instituto Cultural Antonia Diniz Dumont fundado em homenagem à matriarca funciona a todo vapor em Pirapora, auxiliando na difusão desta arte.

Um dia, anos atrás, fui capturada pelos fios que ilustravam um livro de Manoel de Barros. Puxando a meada do enredo encontrei Marilu e Sávia e, depois outros componentes desta maravilhosa família que segue bordando as imagens que permeiam o imaginário humano e matizam de beleza o cotidiano das pessoas.

Jaci Ferreira































































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